Publicado por: maragoncalves | 03/03/2011

“Percebemos que podíamos estar a acabar o curso e não ter sítio onde trabalhar” – Entrevista ao Clique

No dia 15 de Janeiro nasceu uma nova revista online para o público jovem. A ser preparada desde Setembro, a Clique surgiu de uma conversa de café e do “sentido de empreendedorismo” de três jovens, ainda a tirarem a licenciatura em Ciências da Comunicação. Em menos de dois meses, a Clique deixou de ser semanal e passou a publicar conteúdos quase todos os dias. Ao site, soma uma conta activa no Facebook e um programa de rádio.

Fomos então falar com o director de conteúdos, João M. Vargas, e conhecer um pouco mais este projecto.

1. Fala-me um pouco do Clique. Que projecto é este?

O Clique é uma revista online, que começou por ser pensado para ser uma revista semanal. Para ter uma publicação todas as semanas, ao fim-de-semana. Mas depois acabou rapidamente por se tornar numa publicação diária, porque sentimos a necessidade de fidelizar os leitores e de ter conteúdos que pudessem ser acedidos todos os dias. O Clique é uma equipa bastante jovem, em que nenhum dos elementos é ainda sequer licenciado, portanto em certa medida inexperiente. E é uma revista vocacionada também para um público bastante jovem, dos 18 aos 25 anos, e que procura abordar os temas de uma maneira um bocadinho mais descontraída e menos formal do que o que estamos habituados a ver nos meios de comunicação mainstream.

2. Como é que nasce este projecto?

A ideia de criar o Clique surgiu em Setembro, quando eu estava com a Joana [Bento] e o Gonçalo [Simões] (que são os outros fundadores do Clique). Estávamos um dia num café e começámos a pensar em fazer qualquer coisa, quando percebemos que podíamos estar a acabar o curso e não ter sítio nenhum onde trabalhar. E então porque não criar qualquer coisa que eventualmente um dia pudesse ser o nosso próprio emprego? Ainda não é, obviamente. Mas durante os quatro/cinco meses seguintes pusemos o projecto de pé, convidámos as pessoas e depois em Janeiro de 2011 lançámos o Clique. Foi uma ideia que surgiu de uma forma muito espontânea, numa conversa de café, mas que depois foi sendo aprofundada e que acabou por resultar no projecto que está agora online.

3. Quais são os vossos objectivos?

Numa primeira fase – nos primeiros três meses – o objectivo é testar. Ainda estamos naquela fase de ver se é uma coisa para ficar e para durar ou se não tem muito futuro. No entanto, temos tido um feedback positivo e os resultados têm sido positivos. A fase de teste está a correr bastante bem, portanto, seguramente o Clique vai continuar. Depois, a partir de Setembro – que é a altura em que alguns membros da redacção começam a precisar de trabalhar – vamos tentar rentabilizar o projecto. Obviamente não fazendo aquele trabalho muito complicado hoje em dia de criar um jornal, uma revista, mesmo que ainda online, que seja rentável. Mas tentar, através da publicidade, fazer o projecto um bocadinho mais sério, um bocadinho mais profissional. Até para podermos ter conteúdos mais aprofundados e principalmente reportagens – que é o nosso objectivo final: termos um suporte onde publicar reportagens de fundo e não tanto as notícias do dia-a-dia.

4. Porquê “Clique”?

O nome Clique surgiu mais ou menos porque não havia outro. Nós queríamos encontrar um nome que, por um lado, desse credibilidade e que, por outro, fosse descontraído. Não queríamos uma coisa muito formal, muito tradicional, muito conservadora. A ideia foi do Gonçalo, foi ele que se lembrou de “Clique”. Nós queríamos algo que remetesse também para a Internet, para os computadores, porque é essa a plataforma fundamental (ainda que tenhamos o programa de rádio depois associado). E o nome Clique foi uma ideia que foi lançada e como não havia nenhuma melhor acabou por ficar. E acho que até nem foi muito mal escolhido.

5. Como é que os gastos do site são suportados?

Os gastos actualmente são totalmente suportados por nós os três. Portanto, temos uma equipa já com quase 30 pessoas, mas só nós os três é que suportamos o site. Mas são poucos gastos, porque os registos do site foram todos feitos no início, portanto esse foi o gasto maior. Depois o alojamento mensal do site é relativamente baixo. Portanto não é um gasto por aí além, ainda que nós queiramos o mais rapidamente possível ter publicidade para, não só pagar o site, mas para poder aumentar o domínio – quando começarmos a ter informação a mais e não tenhamos espaço para a publicar – e também para podermos começar a fazer reportagens com mais qualidade técnica, especialmente ao nível do som (que é aquilo que é mais difícil de conseguir com qualidade). E os lucros que nós venhamos a ter da publicidade obviamente nunca serão para pagar a redactores ou editores, porque isso era impensável, mas serão para conseguirmos material para fazermos as reportagens.

6. Quem escreve para o Clique?

Neste momento a redacção do Clique é composta exclusivamente por alunos de Ciências da Comunicação da FCSH, ainda que o projecto não tenha nada a ver com a faculdade, nem esteja dependente da faculdade. A equipa editorial é toda deste curso, também por uma questão de proximidade e de conhecimento das pessoas que poderíamos chamar. Ainda assim temos dois cronistas “extra” faculdade, ou melhor, um deles não “extra” faculdade porque é professor aqui, o Alberto Arons de Carvalho, e depois o Steve Doig, prémio Pulitzer [mas que também leccionou na Faculdade no semestre passado], que também escreve para nós. Neste momento vamos começar a alargar a redacção para uma ou outra pessoa de outras faculdades, de outros cursos de Ciências da Comunicação. E nós vamos buscar os redactores exclusivamente a cursos de Ciências da Comunicação ou Jornalismo, porque são aqueles que à partida já têm capacidade e conhecimento técnico para escrever. A não ser que sejam cronistas. Mas os redactores terão todos que ter alguma formação a nível de jornalismo e não serem propriamente amadores.

7. E se alguém quiser também participar neste projecto?

Inicialmente fomos nós que fizemos a escolha. Aliás o projecto foi mantido minimamente em segredo, nunca falámos muito sobre ele e escolhemos as pessoas que nos pareceram indicadas. Na maior parte dos casos acertámos e foram boas escolhas. Tivemos uma escolha ou outra que não foi a mais acertada e agora estamos a fazer a reestruturação da redacção. Uma ou duas pessoas vão sair, outras vão entrar. Mas numa primeira fase foram exclusivamente por convite, porque como estávamos a lançar o projecto queríamos que fosse uma equipa coesa e em quem nós confiássemos e que conhecêssemos bem as pessoas. Nesta fase, e porque queremos publicar cada vez mais conteúdos diários e precisamos de muita gente para começar a alargar o âmbito, estamos não só a convidar outras pessoas como a aceitar pessoas que queiram participar. Claro que depois temos que ver algum trabalho delas, alguns artigos que tenham feito… mas claro que os próprios redactores podem propor-se ao Clique.

8. Que tipo de assuntos trata o Clique?

O Clique, como já disse, tem uma abordagem muito mais descontraída e menos formal. Nesse sentido, o que nós procuramos é trabalhar as temáticas que os media mainstream trabalham, mas não propriamente as “hard news”. Por hipótese, quando há um aniversário de um acontecimento importante – do 11 de Setembro, por exemplo – não vamos fazer uma reportagem sobre o 11 de Setembro em si, mas sobre o terrorismo, sobre o que é que mudou nos últimos 10 anos depois do 11 de Setembro. Vamos pegar nos temas, no acontecimento, para extrapolar para outros assuntos.

Depois, temos uma divisão minimamente formal e tradicional dos jornais: Desporto, Portugal, Internacional e Actualidades. Se bem que depois cada uma das secções é trabalhada de uma maneira diferente. Enquanto o Internacional e o Desporto são duas secções trabalhadas com notícias principalmente; o caso de Portugal é trabalhado com dossiers e não propriamente notícias do dia-a-dia. E depois, na parte das Actualidades, cabe um bocado de tudo o que quisermos falar, desde televisão, cinema, media, ciência, tecnologia… esse tipo de assuntos. São assuntos mais light, também são assuntos que têm mais publicações tradicionalmente. É onde temos festivais de Verão, concertos, estreias da semana…

No caso das estreias da semana nós aproveitamos o Espalha Factos, que é outro site que já existe, já com mais alguma experiência e que faz as estreias da semana. E como nós partilhamos algumas pessoas da redacção – o director do Espalha Factos também é editor no Clique – aproveitamos alguns conteúdos que eles fazem nessa secção. Eles também publicam coisas que nós publicámos e portanto aí há alguma colaboração.

E depois temos as rubricas: Reportagem, Opinião e Entrevistas. Neste momento ainda não saiu nenhuma entrevista; temos as reportagens que saem poucas, porque é difícil fazer reportagem de fundo e de investigação no local; e secções de opinião, que para além do Alberto Arons de Carvalho e do Steve Doig, ainda temos o Samuel Pimenta, que é um autor jovem e que também é aluno aqui na faculdade, por isso aproveitámos a colaboração dele.

9. Qual a origem dos conteúdos do Clique?

No caso do Internacional, por exemplo, a fonte é a Internet. Obviamente não podemos ir à Líbia ou ao Egipto. No caso do Desporto, utilizamos também muito a Internet, mas num futuro próximo esperamos começar a fazer, com passe de imprensa, coberturas de eventos mais específicos, principalmente eventos “não futebol”. Deixar o futebol de lado, já toda a gente está farta de ouvir falar de futebol, e falar de outros desportos mais paralelos, mais amadores.

No caso de Portugal, há um misto. Usamos muito a Internet, mas também tentamos o mais possível utilizar a pesquisa no local. E no caso das Actualidades, procuramos, sempre que possível, fazer entrevistas. Por exemplo, esta semana temos uma notícia sobre os Maria Amélia, em que fizemos uma entrevista com o Nilton.

E depois, aproveitamos notícias que tenham sido publicadas para cadeiras da faculdade. Caso tenhamos, republicamos. Aconteceu com o caso dos pequenos partidos políticos nas presidenciais que publicámos no final de Janeiro. Aconteceu esta semana com uma notícia que foi feita para uma cadeira, sobre uma peça de teatro do Teatro da Trindade, o Otelo. Portanto, tentamos aproveitar ao máximo, até porque não temos muito tempo para fazer ainda mais trabalhos. Por isso tentamos ao máximo, sempre que sentimos que se enquadra, publicar.

10. Fala-me um pouco do programa na rádio.

A ideia do programa na rádio surgiu muito depois da inicial. Só em Novembro, Dezembro é que se começou a pensar nisso. Temos facilidade em contactar com a rádio onde nós estamos a emitir, que é a Rádio Boa Nova (na Oliveira do Hospital), até porque é onde o Espalha Factos, que é nosso parceiro, também tem um programa de rádio. Como tínhamos essa facilidade, conseguimos um acordo com a Rádio Zero (do Técnico) para gravarmos lá o programa e depois transmitimos na Rádio Boa Nova.

O objectivo do programa é, de certa maneira, lançar o Clique. É importante referir que o programa foi pensado quando o Clique estava pensado para uma revista semanal. Ou seja, o Clique saía ao Sábado e o programa era na sexta à noite, fazendo uma espécie de antevisão. Entretanto o Clique passou a ser diário, mas no entanto há sempre alguns conteúdos fixos, que já são minimamente programados ou agendados, e o programa na rádio faz também essa antevisão. Foca-se principalmente no tema forte da semana e faz um comentário sobre esse tema, que depois a edição do Clique na Internet vai abordar. Ou seja, fundamentalmente faz a antevisão do que vai sair no site.

O programa passa nas sextas-feiras às sete e repete ao sábado, às cinco da tarde.

11. A médio prazo e conforme consigam dinheiro com a publicidade, pretendem que os vossos conteúdos sejam principalmente em texto ou procurarão uma maior diversidade de meios?

O objectivo inicial do Clique, porque é uma revista na Internet, era usar a imagem, seja fotografia, seja vídeo. Quanto mais imagem houver na Internet, mais apelativo se torna o texto. E sempre tínhamos pensado fazer isso logo desde o início, mas é muito complicado, principalmente na imagem em vídeo. Portanto, o que nós queremos é conseguir arranjar meios técnicos para ter o máximo de informação em multiplataformas possível. Portanto se conseguirmos dinheiro, obviamente vamos tentar comprar ou de alguma maneira aceder aos meios que nos permitam fazer principalmente as reportagens de fundo, de investigação, com o máximo de imagem e áudio possível (mas principalmente imagem em vídeo). Mas obviamente que isso é dispendioso e, portanto, só aos poucos é que se vai conseguindo.


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